domingo, 21 de fevereiro de 2010

Experiência

era uma luz, um clarão,
um insight num blecaute.
éramos nós sem ação,
como quem vai a nocaute.
era uma revelação
e era também um segredo;
era sem explicação,
sem palavras e sem medo

era uma contemplação
como com lente que aumenta;
era o espaço em expansão
e o tempo em câmara lenta.
era tudo em comunhão
com o um e tudo à solta;
era uma outra visão
das coisas à nossa volta

e as coisas eram as coisas:
a folha, a flor e o grão,
o sol no azul e depois as
estrelas no preto vão.
e as coisas eram as coisas
com intensificação,
que as coisas eram as coisas
porém em ampliação

era como se as víssemos
entrando nelas então,
com sentidos agudíssimos
desvelando seu desvão,
indo por entre, por dentro,
aprendendo a apreensão
de tudo bem dês do centro,
do fundo, do coração.

era qual uma lição
del viejo brujo don juan;
uma complexa questão
sem nexo qual um koan;
um signo sem tradução
no plano léxico-semântico;
enigma, contradição
no nível de um campo quântico

era qual uma visão
de um milagre microscópico,
do infinito num botão,
e em ritmo caleidoscópico,
ciclos de aniquilação
e criação sucessiva,
átomos em mutação,
cósmica dança de shiva.

e as coisas ao nosso ver
davam no fundo a impressão
de ser de ser e não-ser
a sua composição;
como a onda tão etérea
e a partícula não tão
num ponto tal da matéria
tanto 'tão quanto não 'tão.

até que ponto resistem
a lógica e a razão,
já que nas coisas existem
coisas que existem e não?
o que dizer do indizível,
se é preciso precisão,
pra quem crê no que é incrível
não devanear em vão?

era uma vez num verão,
num dia claro de luz,
há muito tempo, um tempão,
ao som das ondas azuis.
e as coisas aquela vez
eram qual foram e são,
só que tínhamos os pés
um tanto fora do chão.


(Chico César)

sábado, 20 de fevereiro de 2010

...

Há coisas que não se diz. Só se pensa.
E quando não se diz se engole, a seco.

Então não há troféu para quem vence sofrimentos, ou quem sabe troféu só para aqueles que não sofrem. Porque sofrer é: algo que não deu certo, ou algo que falta, e se não deu certo de quem será a culpa a não ser de vc mesmo?

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Eu bem que avisei, sou estranho.
Não chegue tão perto assim, vai por mim.
Vc fez que não ouviu, tomou de conta.
Fez de conta que era charme, ai de mim
Agora quero ir embora
Embora não desejo um fim, vai por mim

(Chico César)

Carnaval, carnaval...

Desde que o quarto dele, virou quarto com cheiro de neném a gente se concentra mais em BV(RR). De vez em quando ele tocava campainha: “quem tai?”, saiu, foi pro quintal, nós o enfeitamos e ele tirou várias fotos. E o nosso carnaval não teve avenida, mas teve escola de samba, machadinha das antigas, teve serpentina, máscara de enfeite, confetes, fotos, até maquiagem e animações. Na verdade todo mundo ali só queria um pezinho pra arranjar bagunça. Na verdade a gente só quer ser feliz, se divertir e relembrar os velhos tempos.

E a gente cantou junto enquanto jogava carteado e tomava umas ou outras, até porque final de semana sem uma toalha e mesa de baralho não é final de semana.

Lá é meu refúgio, ou melhor, eles são meu refúgio. Tudo que me faz acreditar que vale a pena viver.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Estou para acreditar que a saudade é o pior sentimento do mundo.

=/